A história de Marvin Gaye: o ícone da soul music que foi assassinado pelo próprio pai

Matheus Felipe
11 min
A história de Marvin Gaye o ícone da soul music que foi assassinado pelo próprio pai
Foto: Wikimedia Commons

Marvin Gaye foi um dos maiores nomes da música norte-americana, especialmente nos gêneros soul e R&B. Ele ganhou fama internacional durante os anos 1960 e 1970 como um artista da gravadora Motown, onde lançou vários sucessos, como “I Heard It Through the Grapevine”, “What’s Going On” e “Sexual Healing”.

Ele também foi um dos primeiros cantores negros a abordar temas sociais, políticos e pessoais em suas canções, influenciando gerações de músicos. No entanto, sua vida foi marcada por conflitos familiares, problemas financeiros, abuso de drogas e depressão, que culminaram em sua trágica morte em 1984, quando foi baleado pelo seu pai, um pastor conservador.

Infância e início da carreira

Marvin Gaye nasceu em 2 de abril de 1939, em Washington, D.C., em uma família profundamente religiosa. Seu pai, Marvin Gay Sr., era um ministro da Igreja de Deus Adventista do Sétimo Dia, uma denominação cristã que seguia rigorosas regras de conduta. Ele era um homem autoritário, violento e abusivo, que frequentemente espancava Marvin e seus três irmãos. Sua mãe, Alberta Gay, era uma dona de casa que tentava proteger seus filhos, mas sofria com a opressão do marido.

Marvin encontrou na música uma forma de escapar da realidade dura que vivia. Ele começou a cantar no coral da igreja aos quatro anos de idade, e logo demonstrou talento e carisma. Ele também aprendeu a tocar vários instrumentos, como piano, bateria e saxofone. Ele era fã de artistas como Nat King Cole, Frank Sinatra e Ray Charles, e sonhava em seguir a carreira musical.

Aos 17 anos, ele saiu de casa e se alistou na Força Aérea dos Estados Unidos, mas não se adaptou à disciplina militar e pediu dispensa. Ele voltou para Washington e começou a cantar em grupos de doo-wop, um estilo vocal popular na época. Em 1957, ele se juntou ao The Moonglows, um dos mais notáveis grupos do gênero, liderado por Harvey Fuqua. Com eles, ele gravou seu primeiro disco, “Mama Loochie”, e fez sua primeira turnê pelo país.

Em 1960, ele se mudou para Detroit, onde conheceu Berry Gordy, o fundador da Motown, a gravadora que revolucionaria a música negra nos Estados Unidos. Gordy ficou impressionado com a voz e o carisma de Marvin, e o contratou como baterista e cantor. No entanto, Marvin queria ser um artista solo, e não se conformava com o sistema da Motown, que controlava todos os aspectos da produção musical. Ele também queria cantar jazz e standards, e não o pop e o R&B que a gravadora exigia.

Sucesso e consagração na Motown

Apesar das divergências, Marvin Gaye conseguiu lançar seu primeiro álbum solo em 1961, chamado “The Soulful Moods of Marvin Gaye”. O disco não teve muito sucesso, mas mostrou a versatilidade do cantor, que interpretou canções de diferentes gêneros. Ele também começou a compor suas próprias músicas, e a colaborar com outros artistas da Motown, como Smokey Robinson, Stevie Wonder e The Supremes.

Em 1963, ele se casou com Anna Gordy, a irmã mais velha de Berry Gordy, e se tornou parte da família da Motown. Ele também teve seu primeiro grande hit, “Stubborn Kind of Fellow”, que chegou ao top 10 da parada de R&B. A partir daí, ele emplacou vários sucessos, como “How Sweet It Is (To Be Loved By You)”, “Ain’t That Peculiar” e “I Heard It Through the Grapevine”, que foi sua primeira música a alcançar o número um na parada de pop.

Ele também se destacou pelos duetos que fez com outras cantoras da Motown, como Mary Wells, Kim Weston e Tammi Terrell. Com esta última, ele formou uma das mais famosas parcerias da história da música, gravando clássicos como “Ain’t No Mountain High Enough”, “You’re All I Need to Get By” e “If I Could Build My Whole World Around You”. A química entre os dois era tão grande que muitos acreditavam que eles eram um casal, mas eles eram apenas amigos. Infelizmente, Tammi Terrell morreu em 1970, aos 24 anos, vítima de um tumor no cérebro, deixando Marvin devastado.

A revolução de What’s Going On

A morte de Tammi Terrell foi um dos fatores que levaram Marvin Gaye a mudar radicalmente sua forma de se expressar musicalmente. Ele também estava insatisfeito com a Motown, que não lhe dava liberdade criativa, e com a situação social e política dos Estados Unidos, que enfrentava a Guerra do Vietnã, o racismo, a pobreza e a violência. Ele decidiu então fazer um álbum conceitual, que refletisse sua visão de mundo e sua espiritualidade.

O resultado foi “What’s Going On”, lançado em 1971, considerado por muitos como um dos melhores álbuns de todos os tempos. O disco é uma obra-prima da soul music, que combina elementos de jazz, gospel, funk e psicodelia, com arranjos sofisticados e letras profundas. Ele aborda temas como a ecologia, a paz, a justiça, o amor e a fé, através da perspectiva de um veterano de guerra que retorna ao seu país e se depara com a realidade. O álbum foi um sucesso de crítica e de público, e influenciou toda uma geração de músicos, como Stevie Wonder, Curtis Mayfield e Michael Jackson.

Com “What’s Going On”, Marvin Gaye provou que podia tanto escrever quanto produzir seus próprios discos, sem ter que confiar no sistema da Motown. Ele também ganhou mais autonomia e respeito na gravadora, que lhe permitiu explorar novos caminhos artísticos. Ele lançou outros álbuns notáveis nos anos 70, como “Trouble Man”, “Let’s Get It On”, “I Want You” e “Here, My Dear”, que mostraram sua versatilidade e sua evolução como cantor, compositor e produtor. Ele também teve vários hits, como “Let’s Get It On”, “Got to Give It Up” e “Inner City Blues”.

Declínio e ressurgimento

Apesar do sucesso artístico, Marvin Gaye enfrentou vários problemas pessoais nos anos 70. Ele se divorciou de Anna Gordy em 1977, após um casamento tumultuado, e teve que pagar uma pensão milionária. Ele também se envolveu com drogas, especialmente cocaína, que afetou sua saúde e sua carreira. Ele se tornou paranoico, depressivo e isolado, e teve dificuldades para gravar novos discos. Ele também teve conflitos com a Motown, que não aceitava suas exigências financeiras e criativas.

Em 1981, ele se mudou para a Europa, onde tentou se recuperar de seus vícios e de sua crise. Ele assinou um contrato com a Columbia Records, e lançou em 1982 o álbum “Midnight Love”, que marcou seu retorno triunfal. O disco continha o hit “Sexual Healing”, que foi um sucesso mundial e lhe rendeu dois prêmios Grammy. A canção mostrou que Marvin Gaye ainda era um dos maiores nomes da música negra, e que podia se adaptar às novas tendências, como o funk e a disco.

Ele também fez uma longa turnê pelos Estados Unidos, que foi aclamada pelo público e pela crítica. Ele parecia estar em uma nova fase de sua vida, mais feliz e confiante. No entanto, ele ainda sofria com seus demônios internos, e voltou a usar drogas. Ele também se reconciliou com seu pai, que o havia rejeitado por sua carreira musical e seu estilo de vida.

A morte trágica

Em 1984, Marvin Gaye voltou para a casa de seus pais em Los Angeles, onde esperava se reconciliar com seu pai, que o havia rejeitado por sua carreira musical e seu estilo de vida. No entanto, a convivência entre os dois foi tensa e conflituosa, e eles frequentemente discutiam por motivos banais. No dia 1º de abril, um dia antes do aniversário de 45 anos de Marvin, eles tiveram uma briga violenta, que terminou com Marvin Gay Sr. atirando em seu filho com uma pistola que ele havia ganhado de presente do próprio Marvin.

Marvin Gaye morreu nos braços de sua mãe, que tentou socorrê-lo, mas não conseguiu salvá-lo. Seu pai foi preso e acusado de homicídio, mas alegou legítima defesa e foi condenado a seis anos de liberdade condicional. Ele morreu em 1998, aos 84 anos, sem nunca ter se arrependido de seu ato.

A morte de Marvin Gaye chocou o mundo da música e seus fãs, que o consideravam um ícone e um gênio. Ele foi velado por milhares de pessoas, e recebeu diversas homenagens de outros artistas, como Diana Ross, Stevie Wonder, Lionel Richie e Michael Jackson. Ele também foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame, no Songwriters Hall of Fame e no Rhythm and Blues Music Hall of Fame, e recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Sua música continua sendo uma referência e uma inspiração para muitos músicos, que reconhecem sua importância e sua influência na história da música.

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