Bob Marley foi um cantor, compositor e guitarrista jamaicano, considerado o maior ícone do reggae de todos os tempos. Ele foi o responsável por popularizar internacionalmente esse gênero musical, que se originou na Jamaica a partir de influências africanas, caribenhas e americanas.
Ele também foi um dos principais representantes do movimento rastafári, uma religião que prega a igualdade, a paz, o amor e o retorno às raízes africanas. Sua obra abordou temas sociais, políticos e espirituais, e influenciou gerações de músicos e admiradores.
Ele vendeu mais de 75 milhões de discos e recebeu diversas homenagens e reconhecimentos, como a Medalha da Paz do Terceiro Mundo da ONU e a inclusão no Rock and Roll Hall of Fame.
Infância e juventude
Bob Marley nasceu em 6 de fevereiro de 1945, em Nine Mile, uma pequena vila rural no norte da Jamaica. Ele era filho de Norval Sinclair Marley, um militar branco de origem inglesa, e Cedella Booker, uma jovem negra jamaicana. Seus pais se conheceram quando Norval trabalhava como supervisor em uma plantação, e se casaram em 1944, apesar da oposição das famílias. Norval, porém, não assumiu o filho e raramente o visitava, dando apenas algum apoio financeiro. Ele morreu em 1955, quando Bob tinha dez anos.
Bob e sua mãe enfrentaram muitas dificuldades e preconceitos por serem mestiços, tanto da parte dos brancos quanto dos negros. Eles se mudaram várias vezes, até se estabelecerem em Trenchtown, um bairro pobre de Kingston, a capital da Jamaica. Lá, Bob frequentou a escola e começou a se interessar pela música, influenciado pelo ska, um ritmo popular na ilha, e pelo rhythm and blues, que chegava pelas rádios americanas. Ele aprendeu a tocar violão com um amigo, e formou seu primeiro grupo vocal, chamado The Teenagers, com alguns colegas.
Em 1962, Bob teve a oportunidade de gravar seu primeiro single, “Judge Not”, produzido por Leslie Kong, um dos principais nomes da indústria musical jamaicana. A música não fez muito sucesso, mas abriu as portas para Bob continuar sua carreira. No mesmo ano, ele conheceu Rita Anderson, uma aspirante a cantora, com quem se casou em 1966. Eles tiveram quatro filhos biológicos e dois adotivos, além de outros filhos que Bob teve fora do casamento.
O início dos Wailers
Em 1963, Bob se juntou a dois amigos, Peter Tosh e Bunny Wailer, para formar um novo grupo vocal, chamado The Wailing Wailers. Eles foram apadrinhados por Joe Higgs, um cantor de ska que os ensinou técnicas vocais e harmonias. Eles também contaram com o apoio de Clement “Coxsone” Dodd, um dos mais influentes produtores da Jamaica, que os contratou para sua gravadora, a Studio One. Lá, eles gravaram seu primeiro hit, “Simmer Down”, que alcançou o topo das paradas locais em 1964. A música era um apelo à calma e à não violência, em um contexto de crescente agitação social e política na ilha.
O grupo, que passou a se chamar simplesmente The Wailers, continuou gravando e fazendo sucesso com músicas como “Rude Boy”, “One Love” e “Lonesome Feeling”. Eles também incorporaram outros integrantes, como os irmãos Aston “Family Man” Barrett e Carlton Barrett, que tocavam baixo e bateria, respectivamente, e formavam a base rítmica da banda. Além disso, eles começaram a compor suas próprias canções, em vez de apenas interpretar as de outros autores.
A conversão ao rastafári e a mudança para o reggae
Em 1966, Bob Marley se converteu ao rastafári, uma religião que surgiu na Jamaica na década de 1930, inspirada nas profecias bíblicas e na figura de Haile Selassie, o imperador da Etiópia, considerado o messias pelos rastas. A conversão de Bob foi influenciada pela visita de Selassie à Jamaica, em abril daquele ano, e também pelo contato com Mortimer Planno, um líder rasta que lhe ensinou os princípios e as práticas da fé. Bob adotou o estilo de vida rasta, que incluía o uso de dreadlocks, o vegetarianismo, a meditação e o consumo de maconha como sacramento.
A conversão ao rastafári também afetou a música de Bob e dos Wailers, que passaram a incorporar elementos da cultura e da espiritualidade africana em suas letras e melodias. Eles também acompanharam a transição do ska para o rocksteady, e deste para o reggae, que era um ritmo mais lento, cadenciado e pulsante, que enfatizava o baixo e a bateria. Eles gravaram alguns dos primeiros discos de reggae da história, como “Soul Rebels” (1970) e “Soul Revolution” (1971), produzidos por Lee “Scratch” Perry, outro pioneiro do gênero.
O sucesso internacional e a consagração como ícone do reggae
Em 1972, os Wailers assinaram um contrato com a Island Records, uma gravadora inglesa que lhes deu mais liberdade e recursos para produzir seus discos. Eles lançaram então o álbum “Catch a Fire” (1973), que foi o primeiro a ter uma distribuição internacional e a chamar a atenção da crítica e do público fora da Jamaica. O disco continha músicas como “Concrete Jungle”, “Stir It Up” e “Slave Driver”, que denunciavam a opressão e a exploração sofridas pelos negros. O álbum também tinha uma capa inovadora, que imitava um isqueiro.
O sucesso de “Catch a Fire” levou os Wailers a fazerem sua primeira turnê pela Europa e pelos Estados Unidos, onde abriram shows para artistas como Bruce Springsteen e Sly and the Family Stone. Eles também lançaram outro álbum aclamado, “Burnin’” (1973), que continha clássicos como “Get Up, Stand Up”, “I Shot the Sheriff” e “Small Axe”. A música “I Shot the Sheriff” foi regravada por Eric Clapton em 1974, e se tornou um hit mundial, aumentando a popularidade de Bob Marley e do reggae.
No entanto, no final de 1973, Peter Tosh e Bunny Wailer deixaram os Wailers, por divergências com Bob Marley e com a Island Records. Eles seguiram carreiras solo, mas nunca alcançaram o mesmo nível de sucesso de Bob, que continuou liderando a banda, que passou a se chamar Bob Marley and the Wailers. Ele também recrutou três cantoras, Marcia Griffiths, Judy Mowatt e sua esposa Rita Marley, para formar o trio vocal I Threes, que fazia os coros em suas músicas.
Bob Marley and the Wailers lançaram uma série de álbuns que consolidaram sua fama e seu prestígio, como “Natty Dread” (1974), “Rastaman Vibration” (1976), “Exodus” (1977), “Kaya” (1978), “Survival” (1979) e “Uprising” (1980). Esses discos continham músicas que se tornaram hinos do reggae e da cultura rasta, como “No Woman, No Cry”, “War”, “Jamming”, “One Love”, “Is This Love”, “Redemption Song” e “Could You Be Loved”. Eles também fizeram turnês pelo mundo, lotando estádios e participando de festivais, como o One Love Peace Concert, na Jamaica, em 1978, onde Bob Marley conseguiu reunir e fazer as pazes os líderes políticos rivais da Jamaica, Michael Manley e Edward Seaga, em um gesto histórico de união e reconciliação.
A luta contra o câncer e a morte precoce
Em 1977, Bob Marley descobriu que tinha um tipo de câncer de pele, chamado melanoma maligno, que se originou em seu dedão do pé direito. Ele recusou-se a amputar o dedo, por motivos religiosos, e optou por fazer apenas uma cirurgia para remover o tecido afetado. No entanto, o câncer se espalhou para outras partes de seu corpo, e comprometeu sua saúde e sua capacidade de se apresentar.
Em 1980, ele fez sua última turnê, que incluiu shows na Europa e nos Estados Unidos. Ele também se apresentou no Zimbábue, na celebração da independência do país, que era um sonho antigo de Bob, que apoiava a libertação da África do colonialismo. Seu último show foi em 23 de setembro de 1980, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, onde ele cantou “Get Up, Stand Up” como sua última música.
Em novembro de 1980, ele viajou para a Alemanha, onde tentou um tratamento alternativo para o câncer, baseado em uma dieta vegetariana e em injeções de vitaminas. O tratamento, porém, não surtiu efeito, e Bob piorou rapidamente. Ele decidiu então voltar para a Jamaica, mas seu estado era tão grave que ele teve que fazer uma escala em Miami, onde foi internado em um hospital.
Bob Marley morreu em 11 de maio de 1981, aos 36 anos, vítima de uma metástase cerebral causada pelo câncer. Ele foi velado na Jamaica, onde recebeu honras de chefe de estado, e foi enterrado em Nine Mile, sua cidade natal, junto com sua guitarra, uma bola de futebol, um ramo de maconha e uma Bíblia. Ele deixou 11 filhos reconhecidos, alguns dos quais seguiram a carreira musical, como Ziggy Marley, Stephen Marley e Damian Marley.